20 de out. de 2003

Privilégios raciais

As “ações afirmativas” constituem uma série de “políticas compensatórias” exigidas por grupos de pressão politicamente corretos cujo objetivo seria reparar “injustiças históricas” sofridas pelos negros. Entre tais medidas, estariam a obrigatoriedade de ensino de história africana nas escolas, as indenizações aos descendentes de escravos e a adoção de cotas raciais em vestibulares e concursos públicos.

Um burocrata, incomodado porque estudantes se lixavam para história africana, promulgou lei tornando obrigatório seu ensino. Genocídios, canibalismo, mutilação feminina, ditadores cruéis etc. são fatos corriqueiros na história africana, mas é preciso maquiá-la, e por isso não serão ensinados. Ora, estudamos história por causa da cor da pele de seus agentes ou por sua importância para compreendermos o hoje? Estudamos gregos e romanos por serem a base da civilização ocidental ou por serem brancos? O estudo de história africana deveria ser proposto (e com argumentos), e não imposto (e sem argumentos).

As indenizações aos descendentes de escravos, se aprovadas, causariam correria a cartórios e genealogistas. Todo mundo querendo saber se teve ascendente escravo. O alto grau de mestiçagem do povo brasileiro faria com que boa parte dele recebesse indenizações, sem perceber que o próprio bolso as custeariam. Argumentam seus defensores que os brancos lucraram com a escravidão dos negros e estes hoje devem ser indenizados. Ora, minoria absoluta de brancos se beneficiou da escravidão negra. Que cobrem os descendentes desses beneficiados, se for justo responsabilizar um descendente por atos de seu ascendente, mormente tendo este praticado ato legal em seu tempo. Caso seja justo, e considerando que nas guerras tribais africanas era costume, anterior aos europeus, membros das tribos vencedoras escravizarem ou venderem aos traficantes de escravos membros das tribos derrotadas, que cobrem também os descendentes daqueles. Isso não é cogitado, como também não é cogitado que seja ensinado, nas aulas de história africana, que os negros foram escravizados pelos próprios negros, prática ainda comum na África.

Cotas raciais de no mínimo 20% (embora para o IBGE os negros sejam 5.39% da população) em concursos públicos e vestibulares devem ser adotadas, afirmam seus defensores, porque os negros ainda sentem os efeitos da escravidão e porque o “racismo camuflado” tupiniquim os impede de subirem na vida. Não são absurdas referências a “efeitos da escravidão” decorridos 115 anos da sua abolição? Quanto tempo será necessário? Também é incompreensível o que seria o “racismo camuflado” tupiniquim. O oposto disso seria o “racismo escancarado” que víamos nos EUA e África do Sul, em que brancos e negros viviam em bairros separados e se matavam entre si? Ora, então só existe “racismo escancarado”, não “racismo mascarado”, porque o racismo, para ser constatado, deve assumir formas exteriores, não interiores, estas só constatadas por entes sobrenaturais. Na falta de melhor argumentação, justificam o “racismo mascarado” porque negros têm médias de renda inferiores às dos brancos. De fato têm, mas diferenças de renda ntre “raças” podem ter causas diversas, não necessariamente racistas. Do contrário, já que os amarelos têm médias de renda superiores às dos brancos, estes podem acusar aqueles de racistas? E o preceito constitucional da isonomia, que afirma todos serem iguais perante a lei, sem distinções de qualquer natureza? Os “movimentos negros”, que durante décadas lutaram para vê-lo cumprido, são os mesmos que hoje exigem que ele seja violado. Alguns juristas até inventaram a expressão “discriminação positiva” para justificar tais estupros jurídicos, ignorando que, como conseqüência óbvia, os prejudicados abarrotarão (ainda mais) o poder judiciário com mandados de segurança, já que as autoridades responsáveis pela guarda e zelo da Constituição Federal até agora não se pronunciaram. Conclui-se que a adoção de cotas raciais (já o são em muitos lugares) trará danos à imagem dos negros, pois serão vistos pela sociedade como inferiores e incapazes de superarem as dificuldades da vida por mérito e esforço próprios. Ademais, quem se sentiria seguro em buscar serviços de profissional que entrou na universidade por causa de sua cor, não de sua competência? Em breve, obrigarão até a iniciativa privada a adotar cotas raciais, como ocorreu nos EUA (de onde as trouxeram), embora lá estejam sendo extintas.

Qualquer vantagem concedida a alguém com exclusão de outrem e contrária ao direito comum é privilégio, e qualquer política ou ação baseada em raça é racista. E a história não contém injustiças ou erros, sim fatos. Logo, é injusto, ilógico e irracional responsabilizar gerações atuais por fatos vivenciados por gerações passadas. Estamos importando problemas alheios, negando nossa cultura e destruindo nosso ethos, cujo exemplo maior é nossa boa convivência inter-racial.